Bala perdida matou ao menos 52 e deixou 86 feridos no Brasil em 2015
de salvador ba, waldir junior
Tayná, de 7 anos, brincava numa rua de Paulista (PE) quando foi baleada na cabeça. A professora Miriã, 40, caminhava para a escola em Vila Velha (ES) quando foi atingida nas costas. Um tiro acertou a cabeça de Asafe, 9, no instante em que ele saía de uma piscina, no subúrbio do Rio. Além da dor, as famílias dessas vítimas têm em comum a dificuldade de encontrar os culpados: ninguém sabe de onde os tiros partiram.
Pelo menos 52 pessoas morreram e outras 86 ficaram feridas por bala perdida em todo o Brasil em 2015. A Polícia Civil não contabiliza mortes do tipo, por isso, o levantamento foi feito com base em notícias publicadas no G1.
“Eu sei que foi uma fatalidade. Mas também é muito difícil saber e aceitar que as pessoas que atiraram ainda estão por aí, soltas, prontas para atirar e matar novamente”, diz Francisca Benedito da Silva, filha de uma vítima de bala perdida em Natal. João Benedito, de 83 anos, estava sentado em frente ao seu mercadinho quando ladrões tentaram assaltar pessoas na rua e acabaram atirando.
Ele é um dos dois casos em que a pessoa foi vítima em resultado de roubos a outras pessoas. Quase 40% das mortes de bala perdida envolvem disputas entre criminosos ou confrontos entre policiais e suspeitos: 10 vítimas foram atingidas em tiroteios entre bandidos e policiais, e 10 em confrontos entre criminosos.Em nove dos casos de mortes, não há nenhuma informação sobre de onde surgiu a bala. Nove foram vítimas de pessoas faziam disparos aleatórios. Cinco mortes ocorreram em brigas. E, em outros cinco casos, a vítima foi alvejada quando alguém tentava matar uma terceira pessoa.
Uma vítima foi atingida após confusão em um presídio a menos de um quilômetro de distância. Ricardo Alves, 33 anos, morreu enquanto escovava os dentes na varanda de casa, no morro em frente ao Complexo Prisional do Curado, no Recife. "Era uma catástrofe anunciada. Esse presídio já era para ter saído daqui", contou o irmão da vítima, Maviael Alves.
Em relação aos 86 feridos, em grande parte dos registros iniciais (20), não há nenhuma informação sobre a origem do disparo. Outros 33 são resultado de tiroteios e 12, de alguém fazendo disparos.
RJ tem maior número de vítimas
Conforme os dados do G1, foram registrados casos em 21 Estados e no Distrito Federal. O Rio de Janeiro é o estado com o maior número de casos: 15 mortos, 45 feridos – 60 no total, o que representa 44% das ocorrências no país.
Conforme os dados do G1, foram registrados casos em 21 Estados e no Distrito Federal. O Rio de Janeiro é o estado com o maior número de casos: 15 mortos, 45 feridos – 60 no total, o que representa 44% das ocorrências no país.
Em seguida está a Bahia, com seis mortes e seis feridos, sendo que as vítimas foram em sua maioria crianças de até 5 anos, atingidas durante brigas ou disputas do tráfico.
Apenas em Mato Grosso, Roraima, Rondônia, Acre e Tocantins não houve registros no ano.
Estado
|
Mortos
|
Feridos
|
|---|---|---|
| RJ | 15 | 45 |
| BA | 6 | 6 |
| ES | 3 | 5 |
| PB | 1 | 7 |
| SP | 5 | 2 |
| MA | 3 | 2 |
| MG | 2 | 3 |
| RS | 4 | 0 |
| GO | 2 | 2 |
| PE | 2 | 1 |
| AM | 2 | 1 |
| PA | 2 | 1 |
| RN | 1 | 1 |
| PI | 1 | 1 |
| AP | 0 | 2 |
| SC | 1 | 1 |
| MS | 0 | 2 |
| AL | 1 | 1 |
| CE | 1 | 0 |
| SE | 0 | 1 |
| PR | 0 | 1 |
| DF | 0 | 1 |
| Total | 52 | 86 |
Como são os registros
Joana Monteiro, presidente do Instituto de Segurança Pública (ISP) do Rio de Janeiro, explica que não existe uma tipificação penal de "bala perdida" e que os casos são investigados pela Polícia Civil como homicídios e lesão corporal dolosa (em caso de ferimentos).
Joana Monteiro, presidente do Instituto de Segurança Pública (ISP) do Rio de Janeiro, explica que não existe uma tipificação penal de "bala perdida" e que os casos são investigados pela Polícia Civil como homicídios e lesão corporal dolosa (em caso de ferimentos).
"A dificuldade é que as estatísticas são baseadas nos registros de ocorrência, que é o primeiro relato do evento que será investigado, e tipicamente há poucos detalhes sobre as circunstâncias da morte nestes registros", diz Joana.
As crianças e adolescentes são maioria entre as vítimas (representam 50% entre as fatais e 39% entre os feridos). Quando se analisa o critério por sexo, homens são maioria entre os mortos, mas isso não ocorre em relação aos feridos.
"Como a maioria das vítimas são garotos, atingidos em favelas de difícil acesso, os casos são recebidos com certa banalização, e ficam sem solução. São raros os casos que se tem lembrança que foram investigados, feito balística e comprovada a autoria do crime", diz Sílvia Ramos, diretora do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania da Universidade Candido Mendes, no Rio.
As balas perdidas têm relação com o uso de armas mais potentes nos centros urbanos, como fuzis e carabinas, tanto pela polícia quanto pelos criminosos, que podem atravessar paredes e são capazes de alcançar até dois quilômetros de distância.
Veja abaixo 14 casos emblemáticos em diferentes partes do país. São famílias que foram dilaceradas pela perda inesperada e que ainda sofrem pela falta de esclarecimento do caso.
Elvino, de 49 anos (RS): O comerciante, dono de uma padaria, passeava nas ruas de Porto Alegre com seus cachorros em uma manhã de setembro quando foi atingido. Policiais trocavam tiros com assaltantes que haviam roubado um mercado quando ele foi atingido.
Matheus, de 6 anos (SC): Os pais do garoto, baleado em uma rua em julho de 2015, ainda não sabem de qual arma partiu a bala que o matou. "Destruiu minha família", diz o pai.
Asafe, de 9 anos (RJ): Menino brincalhão, havia acabado de sair da piscina do Sesi de Honório Gurgel, no Subúrbio do Rio de Janeiro, quando caiu. “Em um primeiro momento pensei que tivesse sido um tombo, mas no hospital disseram que era uma bala na cabeça”, lembrou a mãe
Alex, 39 anos (SP): Vigia voltava para casa do trabalho quando foi atingido na casa em Sapopemba, na Zona Leste de São Paulo. Dois PMs foram presos meses depois acusados de disparo acidental.
Miriã, 40 anos (ES): A professora caminhava para a escola em Vila Velha quando foi alvejada nas costas.
Flávio, 38 anos (MG): Uma briga de casal na rua, em frente a uma igreja, matou o auxiliar de serviços gerais. A mulher dele, que cuida de dois filhos pequenos do casal, espera que "Deus vai cobrar".
Tayná, 7 anos (PE): Ela brincava na rua da avó paterna quando foi atingida na cabeça por uma bala em Pernambuco. A família vai à delegacia todo mês, mas o crime segue sem solução
Laercia, 59 anos (AL): Agricultora do sertão alagoano, ela acabou no meio de uma disputa do tráfico. Ao ouvir barulho de tiros, empurrou a filha para dentro de casa, mas acabou atingida
João Benedito, 83 anos (RN): Comerciante de Natal foi morto quando dois homens numa motocicleta abordaram outros dois homens que passavam pelo local e ordenaram que um deles corresse. Um dos tiros acabou atingindo a cabeça do idoso, que estava sentado diante do seu mercadinho
Daniele, 18 anos (BA): A garota foi atingida a 500 metros de casa durante um tiroteio entre duas duplas rivais em motos. A família insistiu até que a polícia conseguiu prender os suspeitos
Marinete, 66 anos (PB): Dona Neta estava descansando quando ouviu os tiros e levantou-se para ver o que acontecia. Uma bala perfurou a madeira da casa e a atingiu no peito. Filho relembra rajadas ainda longe de casa
Ana, 49 anos (AM): A funcionária pública foi vítima de uma bala perdida enquanto caminhava em uma avenida de Manaus. Segundo a perícia, o tiro teria sido disparado por um policial durante uma perseguição a um suspeito.
Echiley, 8 anos (GO): Balas perdidas mataram a garota e deixaram o irmão dela, de 11 anos, paraplégico. Os irmãos seguiam para a escola quando foram alvos de grupos que trocavam tiros em dois carros. A Polícia Civil identificou os envolvidos
Patrícia, 18 anos (PI): Inconformada com a perda da filha, a lavradora Eliene tenta encontrar um sentido em o que aconteceu. A garota foi atingida quando saía da escola para encontrar a mãe para um lanche.

Algumas das vitimas de balas perdidas.

Parentes chorão a morte das vitimas de balas perdidas.

Tayná foi atingida quando brincava na rua da avó
Daniele e a mãe Rita
Daniele e a mãe Rita
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