"A Gente só queria dar um rolê", diz amigo do menino morto pela GCM
POR WALDIR JUNIOR
DE SALVADOR/BA
FONTE: VEJA SP
Na madrugada deste domingo
(26), um agente da GCM matou um menino de
11 anos. O
menor Waldik Gabriel Chagas, apelidado de Biel, foi atingido por um tiro na
cabeça disparado pelo guarda civil metropolitano Caio Muratori, durante uma
perseguição ocorrida na noite anterior, na Zona Leste. O caso, ocorrido no
mesmo mês da morte de um menino de 10 anos pela Polícia Militar, na
Vila Andrade, chocou a cidade.
Waldik Gabriel Chagas
foi atingido na cabeça por um tiro disparado pela GCM (Foto: Arquivo pessoal)
Fornecido
por Abril Comunicações S.A.Waldik Gabriel Chagas baleado pela GCM
Durante o velório do
menino nesta segunda (27), no Cemitério da Vila Formosa, na mesma região, um
jovem de 14 anos que era amigo da vítima relatou à reportagem de VEJA SÃO PAULO
que estava junto de Waldik Gabriel Chagas quando, ao lado de outro menor de 12
anos, furtaram um carro em Guaianases.
"Só queríamos dar
um rolê na quebrada. A gente ia para uma quermesse. Depois, ia estacionar o
carro na rua. O dono iria pegar o Chevette de volta", diz Fernando (nome
fictício), o mais velho do trio e responsável por abrir o automóvel com uma
chave micha. "Quando vi a GCM, puxei o freio de mão e ouvi quatro
disparos. Depois saí correndo. Enquanto fui para uma pizzaria ali perto, meu
outro amigo se escondeu na quermesse. Antes de sair do carro, vi o Biel caído.
A gente não estava armado".
© Fornecido por Abril Comunicações S.A. Chevette menino baleado pela GCM
Tanto Fernando quanto o
amigo de 12 anos que, segundo o relato, estava no Chevette compareceram ao
velório, acompanhado por dezenas de familiares e amigos. Todos gritaram
"justiça" quando o caixão foi fechado para ser sepultado. Pai do menor
morto, o motorista Waldik Marcelino Chagas, de 37 anos, afirma que levaria o
menino para trabalhar com ele no ano que vem. "Ele iria entregar
mercadoria comigo, mas não deu tempo. Não pude fazer nada por ele",
lamenta.
Em entrevista à Rádio
Estadão, o prefeito Fernando Haddad falou que a ação do GCM Caio Muratori foi
equivocada. "O guarda civil anda armado para se proteger. Não é para fazer
policiamento", afirmou Haddad. Muratori foi autuado em flagrante por
homicídio culposo (quando não há intenção de matar) e vai responder ao processo
em liberdade.
O advogado Ariel de
Castro, representante do Conselho Estadual de Direitos Humanos (Condepe), diz
que o homicídio doloso deveria ser considerado, já que "o tiro que matou o
menino foi efetuado na direção das cabeças dos ocupantes do carro, não nos
pneus ou na lataria".
Em casa, Biel era visto
como um menino que gostava de jogar videogame e soltar pipa. Há cerca de um
ano, porém, teria descoberto as "más amizades", como define o
padrasto, Sandro Mendonça, de 38 anos. "A gente chegou a colocar correntes
no portão e a trocar a fechadura de casa para que ele não saísse, mas o Biel
pulava o portão e ia para a rua. A culpa disso tudo é das companhias que ele
conheceu aqui no bairro. Falavam que ele fumava maconha, mas nunca presenciamos
nada. Agora, o guarda civil que matou meu enteado tem que ser
preso".
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